quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Da série "Poeta? Eu?! Que isso..."

Foi assim que pedi em casamento a mulher da minha vida.

Para não deixar de dizer bem dito

Quando digo que quero me casar com você, digo também
Que você me faz tão bem
Que te quero comigo a vida inteira.
Quando digo que quero me casar com você, digo junto
Que quero você parte de tudo
E de cada coisa do futuro que era só meu.
Quando digo que quero me casar com você, digo ainda
Que ainda sinto aquele friozinho na barriga
E que quero estar ao seu lado ainda que ele se vá.
Quando digo que quero me casar com você, digo melhor:
Digo que reconheço uma saudade do que ainda vai ser
E a certeza de que Deus nos fez para sermos um.
Quando digo que quero me casar com você, digo mais:
Digo que apesar de todas as complicações da vida adulta e a dois
É com você que eu quero aprender a envelhecer.
Quando digo que quero me casar com você, digo ao mesmo tempo
Que todo o tempo não passou de uma espera por você
E que essa espera me fez melhor e pronto para te encontrar.
Quando digo que quero me casar com você, digo enfim
Que até o fim vou saber te olhar como da primeira vez
Convicto de que encontrei o pedaço que faltava em mim.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A Crítica da Crítica

Escrevi isso em 11/02/04 no falecido blog "os Críticos"

Não há limite para a lúcida observação e análise articulada. Sempre haverá o que dizer sobre tudo e sempre é possível sustentar posições contrárias sobre todos os temas. As palavras não se cansam de ser usadas e nós jamais nos cansaremos de ouvir nossas próprias vozes a entoar argumentos em qualquer direção.
A crítica é também uma tentação. Seja o ato ou a simples postura. Enquanto nos ocupamos de apontar o que está errado nos outros, no mundo ou em nós, não nos sentimos desafiados a arregaçar as mangas e fazer algo.
Lembro de um filme em que o Gerard Depardieu fazia o papel de Cristóvão Colombo (acho que o nome do filme é "1492") e tinha um cara que ficava pegando no pé dele direto, mostrando cada coisa que ele fazia errado. Lá para o final do filme, tem uma cena em que o Colombo vira para ele e diz mais ou menos o seguinte: Daqui a 500 anos, não vai fazer a menor diferença se eu assinei ou não esses papéis, se eu requeri isso antes ou depois daquilo. O que vai fazer diferença é que EU FIZ E VOCÊ NÃO.
A verdade é que nosso extremo senso crítico pode nos ser prejudicial. Na medida em que ele nos faz enxergar com precisão o tamanho das impossibilidades, ele é capaz de nos paralisar, impedir a ação. Quantas pessoas medíocres você conhece que efetivamente realizaram grandes coisas? Várias! E se você ouve suas histórias descobre que, muitas vezes, elas se limitaram a colocar em prática 3 ou 4 regras em que decidiram acreditar ferozmente, ignorando inúmeras variáveis e com uma visão muito benevolente de seu próprio potencial. Em outras palavras, elas nem sabem o quanto não sabem. E até por isso são mais capazes de acertar.
Sendo assim, fica aqui dedicada à própria crítica a minha primeira participação como crítico. Acho que não tinha forma melhor de começar.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Da série "Poeta? Eu?! Que isso..."

São coisas mais antigas que resolvi, agora que tenho um blog, colocar por aí.


Não e sim

Espero que entendam cada não meu
Como um sim que não deu
Não me faço muitos por não poder e não sei se quereria
Talvez não mil, mas dois ou três
Não sei se sou menos do que esperam e exigem mais do que posso,
Não sei se percebo errado quando entendo cobrança o que não passa de abraço
Sei que não sou mil e não sou mais. Eu sou um de mim e é o que ofereço.

Em forma de trôpegos bocejos é que se apresenta o que de mim resta.
Há ainda uma frase solta e um olhar ou outro de uma verdade que já não sou.
Esvazio-me de mim à medida que me enchem de tudo
Não tenho tempo para ser, apenas para reagir.


Ensimesmado

Memórias francas não cristalizam a visão
Ruídos densos, pesam em cinza mudez
Remotas portas de um quase talvez
Mostram a crista de um doce senão
Espinhos do sufoco
Picuinhas de assobio largo e entre
O tudo o outro o quase o meio o fim o nada e o também
Mesmice de acaso tedioso: chato, cheio, feio fato

O ar que lava o sempre também trava o ato
E molha o mato e seca o prato e dói de fato
Escuro e claro: contínuo gotejar de vontade
Estranho exalar de metade
Comida de mal, coisa de estalar e vinho
Estrada e enxada, vazio sem osso e espuma
Fim, ferro, fogo.
Sem fada, a fama é nada.

Uma história bem contada

Era uma vez uma vida inteira pela frente com muitos sonhos a realizar. Era uma vez também um plano perfeito para essa vida inteira, criado em amor pelo sábio Pai.
No início, a vida inteira pela frente partiu apressada e ocupada em muito conquistar, construindo seu caminho até os sonhos a realizar. O plano perfeito, surpreso com a disparada da vida inteira, ficou ali, meio sem jeito.
A vida inteira seguia em frente e quanto mais seguia, mais se lhe ficava para trás. Parecia desperdiçar esforços e afastar-se dos sonhos tão distantes. O plano perfeito, por sua vez esperava o tempo certo.
A vida ainda inteira seguia em círculos, e já não sabia se era para frente que se movia. O plano perfeito, então, apresentou-se simples e direto, ideal e concreto como um sonho que se realiza.
E a vida inteira percebeu que, assim e ali, encontrara o que sempre procurara em frente. Percebeu que o plano perfeito era para ela a proposta de um futuro muito sonhado e a revelação do que sempre quisera.
E foi quando se entregou ao plano perfeito que a vida inteira fez sentido. Fez-se nova, bela e perfeita. E foi feliz por toda a eternidade, como o sábio Pai sonhara.

Resposta ao Henrique

O Henrique escreveu em seu blog uma breve resposta a uma indagação minha.
http://palavrasdelonge.blogspot.com/2008/09/uma-breve-resposta.html#links
Eu respondi a resposta com o texto abaixo.

Tomo como à minha pergunta a resposta breve ora posta. Se faço certo ao assim supor, quero, como outrora, expôr como enxergo as coisas.
Quando indaguei a razão da eleição freqüente do homossexualismo para ilustrar sua indignação para com todas as formas de preconceito que se pode encontrar na sociedade, a resposta dada de imediato - e sem nenhuma surpresa aparente - caminhou na direção da crítica a todas as formas de se impor modelos absolutos, a reducionismos comportamentais, a limitadas compreensões da diversidade humana etc.
Talvez após mais detida reflexão, aqui você busca responder a mesma questão pelo caminho da “fidelidade a si mesmo” e “sentido de dever”. A “auto-fidelidade” derivada de uma proposição de não se calar diante do que te parece absurdo e aviltante. Uma necessidade de gritar aos quatro ventos “isso está errado!” Enfim, uma recusa por se calar perante o injusto. O “sentido de dever” vem da percepção da qualidade de seu pensamento e de sua escrita, que devem ser postos a serviço da boa mudança, do convencimento dos que precisam enxergar as coisas de uma forma mais esclarecida, compreender o que ainda não alcançaram.
Por fim, tanto aqui quanto outrora, você buscou afastar como balelas os modelos que se querem “certos” e os julgamentos dos obtusos que taxam de “errado” o que não compreendem. É por isso que tanto lá quanto cá respondo com o que você chamou de retórica, mas que continua fazendo muito sentido para mim.
O meu ponto de vista é que não existe “relativismo absoluto”. Não se pode tomar como verdade absoluta a percepção de que não existem absolutos, porque pode ser que eles existam. Se queremos ser tão criteriosos na nossa desconstrução do status quo, não podemos desprezar a variável de que mesmo as nossas premissas não são as “certas”, mas apenas hipóteses. Em outras palavras, nem mesmo a assertiva de que não existem absolutos pode ser tomada como um absoluto sob pena de negação dela mesma.
Com isso, peço que você não seja tão impiedoso com a religião, nem mesmo com sua forma mais engessada que é a igreja, já que ela é toda composta de pessoas feitas de um barro bem ordinário, capazes de falhar miseravelmente até (e principalmente) em serem amorosas.
E a religião continuará tendo seus absolutos e acreditando neles. Não porque é cega ou pouco crítica, mas apenas porque ela escolheu acreditar. Ainda que a realidade seja maior e o mundo muito mais complexo do que a percepção de qualquer um de nós, a religião enxerga ordem no caos e dá a essa força amorosamente ordenadora o nome de Deus. E, então, acredita que esse amor se fez pessoa, e se fez três, e se fez gente para se fazer acessível. O que era verbo/palavra/poder, veio fazer o que não podíamos. E se desfez de tudo para se fazer salvador. Doou-se porque precisávamos e porque Ele se importa. E se refez porque Ele pode e se mantém porque se basta. E continua se importando conosco apesar de nós mesmos porque Ele é todo amor.
Forte abraço do seu amigo,
Pedro